O Fim da utopia remota: O que os "Custos Invisíveis" de David Vélez no Nubank ensinam sobre inovação
Por anos, o Nubank não foi apenas uma fintech que revolucionou o setor bancário; foi o ícone de uma nova forma de trabalhar.
UX DESIGNINTELIGENCIA ARTIFICIAL
11/10/20256 min read


Por anos, o Nubank não foi apenas uma fintech que revolucionou o setor bancário; foi o ícone de uma nova forma de trabalhar. Com seu "roxinho", ele não apenas desafiou os bancos tradicionais, mas também o modelo de trabalho tradicional. Em um mundo pós-pandêmico, a empresa se tornou a referência máxima da flexibilidade, oferecendo um modelo cobiçado de apenas uma semana presencial por trimestre. Para milhares de profissionais, o Nubank era a prova de que era possível estar na vanguarda da inovação e, ao mesmo tempo, ter uma qualidade de vida global, trabalhando de qualquer lugar.
E então, veio o "Oi, sumido".
A recente decisão do Nubank de desmantelar esse modelo em favor de um retorno escalonado ao escritório — exigindo 2 dias por semana a partir de julho de 2026, subindo para 3 dias em 2027 — é muito mais do que uma simples mudança de política interna. É o evento-chave que marca o fim da "lua de mel" do trabalho remoto em alta performance.
A justificativa do CEO David Vélez não foi baseada em planilhas de produtividade ou horas logadas. Foi baseada em algo muito mais difícil de medir e infinitamente mais valioso: os "custos invisíveis". Para empreendedores, líderes e designers de experiência, a reviravolta do Nubank é a masterclass mais importante de 2025 sobre a dura realidade da cultura, criatividade e os limites da colaboração digital.
1. A Lógica de David Vélez: Desempacotando os "Custos Invisíveis"
A mudança do Nubank não é arbitrária. É uma aposta estratégica de bilhões de dólares de que a proximidade física é um ingrediente não-negociável para a inovação. Quando Vélez fala em "custos invisíveis", ele está apontando para o "vazamento" lento de três pilares que sustentam uma empresa de hiper-crescimento:
"A cultura enfraquece": Cultura corporativa não é um PDF de valores ou um happy hour online. É o conhecimento tácito, a "osmose" que acontece quando um funcionário júnior ouve um sênior negociando uma crise ao telefone. É o alinhamento que surge de conversas de corredor. No modelo remoto, a cultura precisa ser 100% intencional, e isso é exaustivo e, segundo Vélez, ineficaz a longo prazo.
"A criatividade morre em calls agendadas": A verdadeira inovação raramente acontece em uma reunião de 30 minutos agendada no Google Calendar. Ela nasce do caos. Ela é um rabisco em um quadro branco depois de uma conversa aleatória na fila do café. O trabalho remoto otimiza a execução (tarefas claras e definidas), mas estrangula a descoberta (interações espontâneas e caóticas). A criatividade precisa de atrito, de interrupção, de contato humano.
"A comunicação fica ruim": A comunicação assíncrona (Slack, e-mail) é eficiente, mas é de baixa fidelidade. O tom se perde, a confiança demora mais para ser construída e a resolução de problemas complexos se arrasta por dias em longas threads. A alta largura de banda da comunicação presencial — onde linguagem corporal, tom de voz e feedback imediato resolvem um desalinhamento em 30 segundos — é, para Vélez, insubstituível.
O Nubank, cujo valor de mercado depende de sua capacidade de inovar mais rápido que os concorrentes, concluiu que a perda de velocidade criativa era um custo invisível maior do que os custos visíveis de seus novos e expandidos escritórios.
2. O Paradoxo do UX: Quando o "Employee Experience" é Descontinuado
Para os designers de UX, o caso é fascinante. Devemos tratar o "Employee Experience" (EX) como qualquer outro produto digital. Por anos, a principal feature do "produto Nubank" para atrair talentos foi a flexibilidade total. Engenheiros, designers e gerentes de produto de elite foram "adquiridos" com base nessa promessa.
Agora, o Nubank está "descontinuando" sua killer feature.
Isso cria um atrito gigantesco com sua base de usuários (os funcionários). As 12 demissões de pessoas insatisfeitas com o retorno, reportadas pelo Poder360, são o primeiro sinal de churn. O Nubank sabe que muitos "usuários" valiosos, contratados justamente por essa flexibilidade, irão "cancelar sua assinatura" e procurar concorrentes que ainda ofereçam o modelo remoto.
O desafio para a empresa agora é uma questão de Design de Experiência Organizacional:
A empresa precisa projetar um motivo para ir ao escritório. O "novo produto" (o escritório híbrido) precisa entregar um valor que o "produto antigo" (o remoto) não entregava.
Se o funcionário for ao escritório apenas para sentar em um hot desk e fazer chamadas de Zoom com pessoas de outros andares (ou outros países), o modelo falhará catastroficamente.
O Nubank terá que investir não apenas em espaço físico (o "hardware"), mas em rituais de colaboração (o "software") que justifiquem o deslocamento.
3. A Falha das Ferramentas: Onde Estavam a IA e o Slack?
Para os entusiastas de tecnologia, a pergunta mais profunda é: por quê? Em uma era onde temos o Slack, o Figma, o Google Workspace e assistentes de IA cada vez mais poderosos, por que uma das empresas mais tecnológicas do planeta está recorrendo a uma solução analógica como a "proximidade física"?
A resposta é um tapa de realidade: as ferramentas de colaboração digital, incluindo a IA, falharam.
A decisão do Nubank é uma admissão tácita de que as ferramentas atuais são fantásticas para trabalho focado e execução de tarefas, mas péssimas para a colaboração criativa e a construção de cultura.
O Slack otimizou a comunicação assíncrona, mas criou uma cultura de ansiedade e interrupção constante.
O Zoom nos permitiu conversar, mas nos exauriu com a "fadiga de Zoom" e eliminou toda a linguagem corporal sutil e as conversas paralelas.
A IA pode resumir reuniões e escrever códigos, mas (ainda) não pode replicar a centelha de uma ideia que surge da fricção de duas mentes na mesma sala, olhando para o mesmo problema.
A aposta de Vélez é que, para o tipo de inovação que o Nubank precisa, a tecnologia atual ainda é um substituto pobre para a interação humana de alta fidelidade.
4. A Estratégia do Empreendedor: O Custo da Escolha
A realidade nua e crua, como admitiu Vélez, é que o modelo mudou e "se não cabe no novo modelo, talvez não seja mais para você". Isso é brutal, mas é a essência da estratégia: fazer escolhas difíceis.
O Custo Visível: O Nubank agora irá gastar centenas de milhões em expandir escritórios em São Paulo, Campinas, BH, Rio, Buenos Aires e até nos caríssimos polos de Washington e Palo Alto. Terá custos com auxílio-realocação e perderá talentos que não podem ou não querem se mudar.
A Aposta Estratégica: Vélez está apostando que o ganho em velocidade de inovação e força cultural gerado pelo modelo híbrido será maior do que todos esses custos visíveis. Ele está disposto a trocar uma parte de seu pool de talentos global por um grupo de talentos locais, porém mais alinhado e integrado.
A lição para todo empreendedor é que não existe "o melhor modelo". O Nubank provou que a utopia do "trabalho de qualquer lugar" tem seus próprios custos invisíveis. A decisão de retornar ao escritório não é um retrocesso; é uma escolha estratégica consciente que prioriza a inovação espontânea em detrimento da flexibilidade total.
O Nubank está sinalizando ao mercado que, para eles, a mágica da inovação ainda acontece melhor quando as pessoas compartilham o mesmo espaço físico.
Matéria completa:
https://www.poder360.com.br/poder-economia/nubank-demite-12-funcionarios-insatisfeitos-com-trabalho-presencial/
Seu Negócio é Sobre Eficiência ou Sobre Descoberta?
A decisão do Nubank força todos os líderes a se olharem no espelho. O modelo de trabalho da sua empresa deve refletir sua estratégia central.
Produtos digitais de sucesso, assim como culturas corporativas, não nascem por acaso. Eles são projetados. Eles exigem uma experiência de usuário (UX) excepcional, seja para o seu cliente final ou para seu funcionário. E, cada vez mais, exigem o poder da inteligência artificial para automatizar o trabalho de execução, liberando os humanos para o trabalho de criação — um trabalho que, como o Nubank acaba de apostar, acontece melhor em conjunto.
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